Terra dos Sonhos: Sonhos Escarlates


Aqui onde me encontro, é escuro e frio.
Eu durmo no ventre da mãe Terra... descanso em seu abraço gentil e generoso, protegido da luz do dia.
Mas o meu sono, é diferente do sono dos vivos.
Na escuridão, aguardo a hora de despertar do sonho escarlate.
Eu ainda sonho... mas não como os humanos sonham. Nos meus sonhos, eu ainda estou vivo... posso sentir o calor do sol... posso andar...eu posso fazer qualquer coisa.
Sinto a luz do dia enfraquecer...logo irá escurecer. Daqui a pouco, me erguerei... e farei o que os da minha espécie costumam fazer.
Por mais que eu tente, não consigo sufocar o instinto de sobrevivência que cada vez mais me domina.
É uma guerra contra mim mesmo... eu tento manter a fome sobre controle, mas já faz dois dias que não me alimento... e tenho tanta sede.
Anoiteceu. Sinto o chamado da lua... os sons da noite... um sussurro vindo da escuridão me convida:
 
“Venha... está na hora de caçar...”.

Eu sou um caçador... eu caço e sou caçado nesse estranho jogo que é a minha existência.
Mas enquanto espero, ainda posso sonhar.
Eu sonho com o meu Amor perdido.
Oh, meu Amor... você virá? Você se levantará esta noite? Volte... volte para mim, meu Amor.
De repente, acontece... subitamente, sou tirado do meu mundo de sonhos. Algo se contorce dentro de mim... algo incontrolável.
É a fera. Ela quer liberdade... quer correr livre pela noite, sentir a brisa no rosto... quer a emoção da caçada.
Não. Não posso deixar... tenho que me controlar... eu tenho que...
Um rugido animalesco se faz ouvir... um rosnado sobrenatural rasga a tranqüilidade da noite.
Então eu me ergo... nem vivo, nem exatamente morto... e o pouco de mim que restou desaparece, tomado pela fúria insana da fera.
Uma vez mais, um mal ancestral caminha sobre a terra... e não irá descansar enquanto a sua fome e a sua sede não forem saciadas.
Horas mais tarde, eu volto a mim. Estou perto do mausoléu que me fornece repouso.
Eu não sinto mais fome... e não tenho mais sede.
Já está quase amanhecendo... e eu estou exausto. Mesmo sendo o que sou, ainda necessito de repouso.
Então eu me vou. Retorno para a escuridão até que o próximo pôr do sol me force a sair novamente para saciar a minha sede e espalhar a minha triste sina pelo mundo.
Mas enquanto isso, eu ainda posso sonhar... e o sonho é tudo que me resta.
Então enquanto eu puder sonhar, eu sonho.

Denis, O Dreamaker
26,27,29/01/2003

Nota do Autor: até onde eu me lembro, esse é o primeiro texto no qual eu me aventuro no mundo dessas criaturas da noite. Lembro que queria "vestir" esse personagem para poder relatar com alguma propriedade o seu drama em ser um vampiro relutante que tenta lutar contra a sua nova natureza e neceessidades.


Caso gostem dos meus textos, curtam, comentem e compartilhem!!!

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1 Comentários

  1. Uau! Que conto! A consciência que a fera tem da transformação que sofre ficou incrível. Parece sentir vontade de que tudo mude e seja só uma pessoa comum. Parabéns pelo excelente conto! Abraço

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